quinta-feira, 14 de outubro de 2010

TEXTO 2

Felicidade Clandestina

(- Texto de Clarice Lispector )

"Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte.

Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo.

E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante."

17 comentários:

LUI$ FERN@NDO & N@R@ 9º "A" disse...

A aparência física da menina dona do livro a fazia sentir que as outras,esbeltas,tinham raiva ou caçoavam dela por ser daquele jeito,e a única forma de ela tirar esse pensamento era de adquirir um vingativo que era de que seu pai era dono de uma livraria e as meninas adoravam ler.De forma que ela escolhera apenas uma para chantagear com um livro muito interessante para ela.Fazendo assim a menina ir buscá-lo em sua casa todoa os dias sem sucesso pretendido.Até que sua mãe descobre e obriga a filha a entrega-lo.Já a outra se surpreende com a surpresa ao ser enganada todos os dias sem saber e quando descobre ser ajudada pela autoridade da menina,então ela fica sem reação diante da situação.NOSSA,SUPER INTERESSANTE E QUE PODE SE OBSERVAR EM VIDA REAL OU ATÉ SE LEVAR PARA O PESSOAL.

carlos alberto 9º ano A disse...

Este texto nos mostra que tem muitas pessoas com bastante livros guardados em casa,mais se quer pega-o menos para olhar as paginas.O caso do texto era a menina filha de um dono de uma livrari:"nem siquer pegava no livro e estava enguanando sua amigua com declarações inútio,prometendo o livro mas falando para sua amigua que estava emprestado" enquanto uma pobre e umilde criança não se quer tinha uma revista para olhar mais tinha sua força de vontade queria ler ,se sentia completamente realizada lendo livros e conseguiu graças a sua força e vontade

Diêgo,Pedro.9º ''A'' disse...

O texto mostra o quanto existem pessoas egoistas que não gostam de utilizar certos objetos,e muito menos de emprestalos para outras pessoas,e que podem ser descobertas por seus pais,e acabar sendo obrigadas a emprestar o seu objeto,a menina da história só queria ler o livro da sua amiga,mais ela mentia que o tinha emprestado,e a mãe dela descobriu,e a menina foi obrigada a emprestar o livro a outra menina,e a garota foi para casa com o livro,e fingia que não o tinha para depois ter o susto de obtelo, criava falsas dificudades para aquela coisa clandestina.

Aluizio 9º Ano "A" disse...

O texto conta a història de uma menina vingativa , e de uma outra menina que amar livros.O pai da garota má era proprietario de uma livraria a menina má disse que a emprestaria,livro disse a ela para e a casa dela,todos os dias a menina e a ate a casa dela e sempre ela mentia onde o livro estava ,um dia sua mãe descobrio a brincadéira dela, a mãe da menina logo emprestou o livro por tempo emdeteminador,a menina ficou muito contente com livro.LEIA ESTE TEXTO ELE E MUITO BOm, PODE LHE SER ULTIO EM SUA VIDA.

Antonio José Vasconcelos Ferreira @ .com disse...

esse texto mostra o relato de uma menina que tinha um livro em casa e ficava tipo chantagiando a outra menina que queria ler o livro, e tambem mostra que a menina tinha varios livros em casa mas não lia e nem queria que os outros lesse, enquanto ela tinha um livro em casa e nã queria ler, tinha uma humilde e podre menina que tinha a boa vontade de ler o livro, mais quando sua mae descobre ela fica brava por ela não ter emprestado o livro para a menina, pois a menina não saia da porta dela.
" POR ISSO É INTERESSANTE QUANDO A GENTE TER UMA LIVRO EM CASA E UMA PESSOA CHEGAR PEDINDO EMPRESTADO PARA LER AGENTE EM PRESTAR POIS E LENDO QUE FAZEMOS VARIAS DESCOBERTAS."
Outro aspecto que eu achei muito interessante e que a menina fica tão feliz quando ganha o livro que ela disfarça que o livro não esta lá para que ela fique com o livro por mas tempo.

J@CK E F@BIO disse...

Esse texto mostra para nos que temos que ser solidarios uns com os outros embora que ela seja feia. como no texto fala que a menina tinha aparência fisica os outro colegas caçoavam dela por ser gorda ,baixa.ela foi passando e ficando com raiva e o seu jeito de fica vingativa. foi por que seu pai era dono da livraria e as outras meninas adotavam livros para ler de forma que a garota escolhese para a menina.ela chantageava as outras meninas com o livro muito interessante amenina chegava em casa e sua maê obrigava ela a entrega o livro.mas a garota gostava
muito do livro mas sua maê descobril que sua filha estava mentindo sobre o livro que a menina estava chantageando as outras garotas só por causa que as meninas caçoava dela.falava que ela era baixa e gorda.(SER DEFERENTE É UMA AVENTURA !E RESPEITA FAZ PARTE DELA)

ALUÌZIO E ELIETE 9º ANO A disse...

O texto conta a história de uma menina que adorava livros,mas era Homilhada por outra menina, seu pai era dono de uma livraria, a menina era pura vingança,um dia a menina má disse para a outra que tinha as reinações de narizinho, de monteiro lobato,disse ainda para a menina e em sua casa,todos o dia a menina alegra foi ater a casa da amiga dela pedir o livro a menina sempre enventava uma història para nâo,enpreta o livro.um dia sua maê disse a ela estè livro nunca sai de casa,voçê nunca a ler o livro,e disse ainda que estava empretado,a maê da menina disse peger menina porde ficar com o livro por tempo imdeterminado,a menina ficou muito contente com o livro.LER ESTE TEXTO POR QUE ELE E MUITO BOM E ENTERESANTE.

Maryana e Valneide 9º ano "B" disse...

Esse texto mostra que as vezes nós somos muitos mesquinhos com os outros, temos algo que uma pessoa precisa e não queremos emprestar, que é o caso da filha do dono da livraria.Ela tinha muitos livros e a podre menina não tinha nenhum. A filha do dono da livraria achava que as meninas tinham raiva dela por ela ser daquele jeito, então resolveu se vingar delas e a vítima principal foi a menina ingênúa, a filha do dono da livraria disse que ia emprestar seu livro da Narizinho de Monteiro Lobato mais a enganou fez ela de boba, fez a coitadinha ir todos os dias até a sua casa com uma vontade imensa de ler aquele livro e quando chegava lá ela dizia que não ia emprestar, mas a mãe da filha do dono da livraria descobriu que sua filha não queria emprestar o livro, porém foi obrigada a emprestar.e deixar por tempo indeterminado.
Esse texto também mostra a nossa realidade, que há poucas pessoas com muitas coisas enquanto há muitas pessoas com poucas coisas.
"MENTIRAS TEM PERNAS CURTAS, MAIS CEDO OU MAIS TARDE A VERDADE SEMPRE APARECE."

samara garcês e jade 9º a disse...

o texto de inicío muito curioso,diante de seu título.No decorrer da leitura percebemos que o título não passa a informação contida no texto.Sem dúvida o texto trás pros leitores um aprendizado incrivel,que não conhecemos as pessoas realmente. Que maldade tinha a menina emprestar o livro para pobre colega,fazer a coitada ir em sua casa várias vezes e ainda mentir que não estava com livro.belissíma a persistência da menina pra ler o livro e a postura da mãe de concordar com que a filha estava fazendo com a colega.Que bom que no final a menina pode conseguir sua felicidade lê o livro

karyna 9º ano B disse...

era uma garota que seu pai era dono de uma livraria e ela se achava mandona da livraria e nao queria deicha as outras garotas leren os livros,e tinha uma garota muito diferente que ela queria ler o livro de monteiro lobnato[narizinho]e a garota dona da livraria nao queria dar por causa que ela era feia,gorda etc.todos os dias ela ia na casa da garota que nao queria enpresta o livro,mas quando a mae da garota percebeu que sua filha nao queria enprestar a garota,a sua mae mandou a garota levar e ler o livro e devouver quando quiser.

PAULA e RAIMUNDA 9º A disse...

O texto quer nos dar sentido a uma única coisa central(O egoismo que existe nas pessoas)por exemplo:se alguma pessoa,lhe pede um objeto empretado as respostas seriam,(sim,não,vou pensar no seu caso ou vou pedir a minha mãe.NO caso desse texto acontece a mentira o que isso nos leva uma pessoa impocríta,mão de vaca.Esse texto é uma lição que deveriamos pensar que muitas vezes,temos coisas,que nem precisamos mais o nosso irmão precisa.Temos em casa aqueles livros interessante mais nem lemos por preguiça ou que não gosta de ler livros. BOM o livro pode nos fazer, imaginarmos que estamos em muitos lugares e até nos levarmos ao conhecimento.

Maria Naiane,Francisca Manoela 9ºB disse...

Nos entendemos que no texto felicidade clandestina,fala sobre uma menina que gostaria de ter um pai dono de livraria,pois ela gostava muito de ler;enquanto a outra garota gorda,baixa,sardenta e de cabelos excessivamente crespos meio arruivados tinha.A menina era totalmente humilhada por ela.A felicidade da menina loira se repetia todos os dias:quando pensava em ir na casa da garota malvada pegar o livro.Logo mais tarde quando conseguiu finalmente o livro,quase nem lia ele de tanta felicidade e aos poucos foi vendo que sua felicidade era clandestina. Nos vemos que nesse texto leva muito para o nosso dia a dia,pois na maioria das vezes tem muitas pessoas que só querem humilhar a gente

paulo i segio disse...

a aparenci emuito inpotanti pranois qui siguinifica pranois todaresposabilidadi quireaumenti caraquiteritica pranois

iara.alice.9ano A disse...

o texto vem falando de uma menina que gosta muito de lerpois seu pai tem uma livrariaela nao queria saber de nada apenas da leitura que estaria lendo no seu momento de leitura nada lhe atrapalhava suas amigas o criticavam mas ela nao ligava pois gostava de ler.o texto me passou tambem que tem gente que tem livros em casa mais nao leemnao poderiamos jugar os outros por o que gostam de fazer pois todos nos somos iguaisessa menina tambem era muito vingativa.nunca devemos deixar passar a chance que temos pois ela so vem uma vez











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fco anailton 9 ano (B) disse...

esse texto nos mostra que as vezes somos muito severos e orgulhosos achamos que somos melhores que os outros,e as vezes não somos como é o caso dessa menina ela queria ser mais do que era e isso fasia com que ela tratasse todo mundo mau,ao contrario da outra menina ela era doce, gentiu,timida e tinha um grande enteresse por leitura.então a garota usou esse enteresse da garota,para faser uma brincadeira de muito mau gosto com a outa mas,como, aqui se faz aqui se paga.a brincadeira não durou muito tempo a mãe dela acabou descobrindo, e fez, ela entregar o livro,para a outra menina. é por isso que devemos tratar as pessoas bem,que as pessoas vão nos tratar bem.

Ericks e Maria Stefânia 9 ANO "B" disse...

Bom, o texto retrata uma que tinha inveja de algumas meninas pos era baixa, gordinha, sardenta e seus cabelos era muito caixiados e por isso acabou se tornando egoista, as meninas que tinha inveja era magirnhas altas e tinha os cabelos livres só que uma dessas garotas gostava muito de ler e o pai da que tinha inveja das outras tinha uma uma livraria só q ue um dia a menina pediu um livro emprestado para ler e ela deu um dia ela disse meu pai mim deu um livro novo as reinações de narizinho e a menina ficou apaixonada e pedio para ler a garota dísse vem amanhã e ela foi só que não consegui o livro a menina disse que já tinha imprestado e disse volte amanhã e a menina voltou a mãe da filha da menina que ia emprestar o livro achou estrnho o que ela ia fazer lá doto dia e perguntou a menina disse queria o livro só que não tava lá a mãe da garota disse que tava e disse quera para emprestar ou seja a mentira não leva ninguém a nada.

Joyce e Naiane Alves 9 ANO "B" disse...

Esse texto mostra para nos que temos que ser solidarios uns com os outros embora que ela seja feia. como no texto fala que a menina tinha aparência fisica os outro colegas caçoavam dela por ser gorda, baixa, sardenta.Seu pai tinha uma uma livraria só que um dia a menina pediu um livro emprestado para ler e ela deu um dia ela disse meu pai mim deu um livro novo as reinações de narizinho e a menina ficou apaixonada e pedio para ler a garota dísse vem amanhã e ela foi só que não consegui o livro a menina disse que já tinha imprestado e disse volte amanhã e a menina voltou a mãe da filha da menina que ia emprestar o livro achou estrnho o que ela ia fazer lá doto dia e perguntou a menina disse queria o livro só que não tava lá a mãe da garota disse que tava e disse quera para emprestar ou seja a mentira não leva ninguém a nada.